Dona Maria José, na sua despedida, realizou seu sonho. As sirenes do Corpo de Bombeiros cruzaram a Ilha do Retiro. Pioneira nas arquibancadas desse estádio, a torcedora símbolo faleceu aos 98 ano O velório aconteceu no clube, com homenagens e sendo carregada por torcedores dos três clubes do estado.
Nascida em Nazaré da Mata, na Zona da Mata Norte de Pernambuco, e enfrentou o abandono dos pais na infância. Ela reivindicou seu espaço nas arquibancadas da Ilha do Retiro quando mulheres como ela nem sequer eram bem-vindas no futebol. Vivia com as cores rubro-negras, vestida dos pés à cabeça, tornando-se uma extensão viva do clube.
Com sorriso no rosto, trajando as cores rubro-negras, segurando uma sombrinha nas mãos e dançando ao som do frevo, Dona Maria se tornou um símbolo da torcida. Sua imagem estampava estandartes em blocos de Carnaval, camisas e bandeiras.
Luto eterno
No dia de sua despedida, um bandeirão foi estendido sobre a arquibancada da Ilha do Retiro, balançando ao vento entre as estruturas do estádio – seu lugar favorito no mundo. Ao lado, a palavra que a define: resistência. Dona Maria recebeu homenagens de torcedores do Sport, Santa Cruz e Náutico, como o capitão Rafael Thyere, o time de futebol feminino e o presidente Yuri Romão.
Dona Maria viveu sozinha até os 97 anos, quando se mudou para um abrigo de idosos. A última vez que Dona Maria esteve na Ilha do Retiro foi em 20 de maio de 2023, testemunhando uma multidão de 18.233 mulheres, crianças e pessoas com deficiência pulsando nas arquibancadas, em uma tarde histórica para o clube e para ela própria.
“Quando eu morrer, quero sair do Sport e ir em um caminhão do corpo de Bombeiros, passar pelo Palácio do Governo até chegar no cemitério. E quero ser enterrada na frente, não é atrás não. Porque quando o negro morre, enterram lá no fundo. E eu tenho muito orgulho da minha cor.”